No momento da despedida, sem palavras, sem promessas, mas ambos já sabiam como deveria ser. Ela já era minha, e nada mais poderia mudar este fato. Ao surgirem os primeiros e tímidos raios de luz cada um seguiu em uma direção. Ela, com os olhos cheios d’água, com o coração cheio, radiante, mas partido, com medo de me perder. Nos olhamos pela última vez, intensamente, fomos nos afastando lentamente, até desaparecermos na penumbra.
Mais um dia se passou. Dormi e acordei. Mas nada mais será como antes. A cor do amanhecer, as primeiras gotas de orvalho, o barulho dos ventos. Aspectos do dia a dia que antes pareciam tão triviais passaram a significar muito mais. As lembranças de ontem continuam fazendo estremecer minha espinha, como um raio que transpassa o corpo até atingir a alma.
Aquela energia contagiante torna-se um vício, mais que isso, uma necessidade biológica. Mas para fechar a harmonia é necessário que os dois polos voltem a se tocar. Ou toda aquela energia irá desvanecer-se no vazio. O desejo de senti-la ao meu lado, seu corpo, seu calor, sua ternura, seu desejo intenso de entregar-se a mim não sai mais da minha mente.
A certeza de que ela estaria em algum lugar, naquele momento, desesperada para estar novamente ao meu lado me dá forças para voltar a procurá-la.
Agora em plena luz do dia, retorno ao lugar onde nos vimos pela última vez. No meio da longa área de areia, ainda gelada, úmida, castigada pela friagem do inverno. Não vejo ninguém por perto. Nenhuma alma perdida. Aquilo me da um leve temor de que aquele sonho teria acabado ali, naquela noite.
Mas sua energia mesmo distante continua a me fitar, intensamente, me avisando que ela estava dentro de mim não apenas naquele momento, mas desde o instante em que partiu. De tempos em tempos ela chega tão forte a ponto de tocar meu coração, fazendo com que bata aceleradamente.
Baixo a cabeça, fixando meus olhos na areia, procurando pelo ponto exato onde estivemos, as marcas de nossos corpos. Mas com todo aquele vento parece que nada mais sobrou, nenhum vestígio no tempo.
Sem saber mais o que fazer fecho os olhos, e respiro fundo. Deixo minha mente viajar no espaço, no tempo, nas nuvens. Sinto fluir aquela energia que em momento algum parou de me fitar. Passo a senti-la cada vez mais forte, e de olhos fechados passo a caminhar em sua direção, como um imã que me puxa lá de longe.
Sempre de olhos fechados vou seguindo o caminho orientado pelos meus instintos. O tempo passa, mas não paro, nem abro os olhos. No meio do tempo, do vento e dos escassos raios de sol, continuo a caminhada. Subitamente começo a sentir seu doce perfume, ainda distante, mas passei a ter certeza que em muito breve iria encontrá-la.
Caminhei um pouco mais na direção daquela essência, e abri os olhos. Logo visualizei aquela imagem linda, incomparável, singular, cabisbaixa, frágil, sentada na areia.
Me aproximei rapidamente, sentei em frente a ela, peguei suas mãos. Olhei para seus olhos. Percebi que ela estava ali sentada desde o instante que a deixei. Seu rosto estava pálido, suas mãos frias, trêmulas, mas seu coração batia forte e muito acelerado. Percebi que começaram a correr lágrimas de seus olhos, de felicidade por eu ter voltado, fato o qual ela jamais deixou de acreditar.
Naquele momento eu entendi absolutamente, que a sua entrega havia sido total, muito mais que eu acreditei no primeiro momento. Ela estava ali, totalmente nas minhas mãos, por completa, para eu cuidar, amá-la e fazê-la feliz para sempre.
Nossa, gostei demais.
ResponderExcluirEnfim, parece que as duas energias estavam prontas para um amor, intrínseco e verdadeiro.