quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Space Oddity II



Space Oddity - part I


A decisão estava tomada.

A desistência não faz parte do meu ser. O que estaria para vir agora era apenas uma questão de tempo.

Saí daquele prédio, introspectivo. Flashes de memórias soltas no tempo iam e vinham, mas ao mesmo tempo estava com a mente um tanto adormecida, viajando entre o real e o abstrato, como dentro de uma pintura. Mas esta era uma dualidade quase permanente nos meus devaneios.

Enquanto caminhava sentia o clima frio da atmosfera envolvida por uma garoa que penetrava no meu corpo, e de alguma forma me trazia breves momentos de meditação e paz interior. 

Caminhei na direção do mar, que sempre foi a minha principal fonte de energia. A imagem daquela imensidão azul, mesmo que um tanto mexida pelo vento, me fortalecia. Devido ao mau tempo, não havia pessoas por perto, e assim a troca de energia era límpida e plena. De repente me veio um pensamento de que em breve veria o azul do mar lá de cima, e que com certeza aquilo seria uma experiência singular e indescritível.

Em alternados instantes de reflexão não poderiam deixar de virem aquelas questões sempre presentes no meu dia a dia. Seria uma missão apenas de ida? E se for, haveria algo depois? Mas aqui ainda havia questões em aberto a serem resolvidas, batalhas que precisavam ser vencidas, relações indefinidas...

O tempo aparentemente não é nosso aliado. Pelo menos em uma visão rasa e plana da realidade que é e talvez sempre seja uma incógnita. Por que o tempo passa? Mas será que passa mesmo ou tudo é apenas uma ilusão, ou uma realidade fictícia de uma simples instância do nosso ser? Haveria outras instâncias? Certeza absoluta dessas respostas jamais teremos, pelo menos enquanto esta instância persistir. Mas o que estaria buscando de fato?

Já havia concluído que o material jamais será o suficiente para atingirmos a plenitude. A  conjuntura em que vivemos parece nos induzir a modelos de existência vazios, que nos oferece gotas de felicidade e prazer em troca de escravidão para servirmos ao sistema. Nascemos livres, mas construímos prisões ao longo da vida onde acabamos por ficar confinados em rotinas que nos levam a desconectarmos des nós mesmos, chegando a ponto de esquecermos que existimos, deixando o nosso verdadeiro eu perdido no espaço-tempo. Se não houver reação a tendência é perdermos mobilidade, vitalidade, termos a nossa liberdade cerceada, nos fazendo perder aquele brilho vital que nos é concedido no instante em que nascemos.

A liberdade é imperativa e a luta por ela jamais deve ser abandonada. É preciso viver, socializar-se, interagir com o meio, a natureza, pessoas, animais, criar, inventar, testar, tentar, perseverar por aquilo que deseja e acredita, amar muito a ponto de sentir-se vivo, brilhar, fazer com que a sua existência faça diferença, e que a nossa experiência justifique esta dádiva que nos foi dada pelo universo. Pode ser que haja outras instâncias de existência, mas certamente esta será única e singular, então a nossa maior obrigação na vida para nós mesmos é sermos felizes sem limites, ao extremo.


A contagem regressiva para o dia da missão foi iniciada.


Space Oddity - part I

Space Oddity - part III




quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Space Oddity I


Em algum lugar no passado, era um dia comum, perdido no tempo. Acordei. Logo iria preparar-me para um novo dia. Tomar o meu café, seguir com a rotina de sempre, trabalho, obrigações, pequenos lazeres, fazer alguns exercícios físicos para manter uma qualidade de vida satisfatória, até que o dia se acabaria, e após uma outra noite de sono voltaria ao início do ciclo. 

Só que naquele dia algo muito diferente ocorreria. Durante a leitura diária do jornal encontrei uma pequena nota no seu interior citando o alistamento de candidatos para uma missão espacial, mas sem maiores detalhes da sua natureza e objetivos. Para saber mais, teria que seguir adiante no processo. 

Resolvi inscrever-me para a missão. Nem mesmo fazia ideia do motivo. Não pensei, fui até a agência, deixei o meu nome e preenchi os dados.

O tempo correu, voou, o passado desapareceu no horizonte. Era uma manhã. Ao abrir a caixa postal havia um e-mail convocando para a entrevista. O sender me parecia desconhecido, mas aquilo me remeteu ao passado e caiu a ficha que era algo relacionado àquela inscrição que um dia havia realizado, sem saber o porquê.

A minha mente estava confusa, perdida, sem um direcionamento definido. No decorrer dos últimos anos havia lutado várias batalhas. Conquistei pequenas vitórias, mas algo lá dentro me arremetia para o nada. Mas o nada não me satisfazia. Para escapar buscava algo que me permitisse sublimar aquilo que estava perdido no meu interior através de catarses, descarregando emoções sem um foco definido. Precisava continuar lutando, sem mesmo saber o motivo. Embora as causas parecessem consistentes, e aparentemente valiam a pena serem conquistadas, na verdade não passavam de um pretexto para lutar, para permanecer vivo, de pé, preparado para a próxima guerra.

Chegou o dia da entrevista. Após obter as credenciais, entrei naquele prédio branco, limpo, moderno. Não havia filas, nem outros supostos candidatos. Apenas segui aquele longo corredor que levava a uma sala branca, vazia, com dois sofás. Sentei e aguardei.

Após alguns minutos de espera fui chamado para um escritório onde havia apenas uma mulher, toda de branco, de óculos, que educadamente pediu para sentar-me à sua frente.

Conversamos por muito tempo, talvez horas. O meu currículo tecnicamente parecia enquadrar-se no perfil que estava buscando. Boa parte da entrevista parecia direcionada à leitura da minha mente, a tentativa de entendimento de porque eu estava ali, disposto a submeter-me àquela missão de alto risco.

Não havia uma clareza. Mas todas aquelas batalhas que havia lutado, quando olhava para trás sempre vinham questionamentos. Por que? A que tudo isso me levou? Para onde pretendo ir? Não havia como responder de forma objetiva. Pequenos portos seguros poderiam parecer justificativas pontuais, mas no dia seguinte rapidamente perdiam suas consistências.

No fundo o que estava buscando era a luz. Às vezes ela parecia tímida, escondida no meio de um sonho. Em breves momentos parecia querer materializar-se, mas a tendência era sempre desaparecer no tempo. E enquanto isso buscava guerras para lutar, fortalecer-me o possível para estar sempre preparado. As marcas da guerra ao invés de me demover, se tornavam combustível para seguir em frente.

E a luz? Onde buscá-la? Ela jamais poderia ser esquecida, porque no dia em que desvanecer até que desapareça para sempre a existência tornar-se-ia inócua. E a esperança? Ela vem, vai, vem... Em alguns dias parece que o sol, ou mesmo a lua, o universo, as estrelas, me trazem uma fresta da luz. Em outros vou na sua direção, timidamente, acreditando... Mas em alguns momentos deixo de acreditar até que algo dentro de mim gere uma nova faísca para me fazer acreditar novamente.

A desistência não é uma opção. Nunca foi, nunca será. Um dia com certeza a luz permanecerá acesa, para sempre. 


Parei de pensar e resolvi aceitar o convite.


Space Oddity - part II

Space Oddity - part III


Space Oddity - David Bowie




quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Brave New World

 


Há sete anos atrás escrevi meu último post. E o tempo passou, voou, e se foi com o vento.

Desde então, passamos a enfrentar anos sombrios onde a morte se tornou mais frequente no nosso dia a dia, e com isso o mundo mudou para sempre.

Em paralelo, as estruturas de poder evoluiram os seus mecanismos de controle, tornando-se mais complexos e articulados, e mantendo o seu principal objetivo que sempre foi subjugar e controlar a massa, porém de forma mais ostensiva mas com uma retórica muito mais consistente e convincente.

Para desviar o foco do gado, promoveram guerras internas colocando o povo contra si mesmo através de posicionamentos antagônicos em questões ambientais, ideológicas, raciais, gênero, guerras, entre outras.

Enquanto as pessoas passaram a focar nestas questões, o establishment aliado aos super ricos em ambito mundial e apoiados pela grande mídia, saíram dos holofotes ficando mais livres para crescerem em riqueza e poder, ditando as regras e diretrizes do mundo.


"The world is not dangerous because of those who do harm but because of those who look at it without doing anything." ~Albert Einstein