sábado, 19 de junho de 2010

Vivendo a vida...

Uma criança nasce. O novo ser é retirado de seu casulo protegido, aconchegante, e pela primeira vez se depara com o mundo em que viverá por toda a sua existência. Com o corte do cordão umbilical o bebê torna-se um ser desvinculado do organismo da mãe, e pela primeira vez ele precisará respirar por conta própria. Além da possibilidade de ser dolorosa a primeira vez em que o ar entrar em seus pulmões, o bebê poderá engasgar-se com o líquido aminiótico, então o médico poderá ainda dar-lhe umas palmadas para que chore e facilite a sua primeira respiração. Assim nascem a maior parte dos bebês em nossa sociedade.

A criança é então educada e preparada para conviver em sociedade de forma politicamente correta, seguindo as suas leis e religiões, e treinada para exercer uma profissão futura com o objetivo de sustentar a si mesma, sua família, e vencer na vida. A sociedade foi concebida e projetada com foco na produção e consumo de bens materiais a serem conquistados. Como o ser humano jamais se saciará através do material, sua ambição torna-se crescente e intensa, em uma luta sem fim por uma felicidade pontual temporária, que irá durar até que seja definida sua nova meta de conquista, na qual serão depositadas todas as suas expectativas. Ou seja, desta forma jamais é alcançada a plenitude e sempre fica a impressão que falta algo em nossas vidas, mas sem sabermos exatamente o que.

Se pararmos pra analisar, na nossa conjuntura atual uma pessoa gasta em média 20h/dia ou mais entre horas de sono, trabalho, estudo, meios de transportes, alimentação, pagamento de contas, obrigações de rotina, entre outros. É como se o homem estivesse condenado a viver reprimido em uma prisão virtual, com sua liberdade restrita, tendo que cumprir obrigações diárias e sem fim.

A tendência natural é o indivíduo esquecer que está vivo, ligar o piloto automático e seguir com o seu dia a dia, mês a mês, ano a ano, enquanto durar a sua existência. Alguns momentos de prazer lhe são proporcionados para o esquecimento e aceitação da conjuntura.

Várias pesquisas e experiências realizadas com animais comprovam que quando colocados fora do seu habitat, em circunstâncias anômalas ou desfavoráveis ao seu padrão natural, demonstram alteração no comportamento (violência, estado depressivo, inquietação, perda de apetite, etc.), podendo até mesmo levar a morte.

O homem é um ser racional. Sua mente pode reagir consciente ou inconscientemente dependendo do contexto em que o indivíduo for submetido. Conforme descrito em posts anteriores, diversos mecanismos de defesa podem ser desenvolvidos como reação a uma situação desfavorável. O organismo humano funciona como um conjunto. Quando a mente não está bem, os órgãos poderão sofrer conseqüências indiretas e apresentar doenças, as quais podem levar a estados ainda mais depressivos.

De acordo com pesquisas realizadas (vide posts anteriores) 73,6% da população está comprometida em graus diferentes de algum tipo de transtorno psicológico. Sendo assim, considerando a perfeição do universo em que vivemos e as pesquisas realizadas com animais, o mais lógico seria concluir que a mais provável explicação para isto é que o homem encontra-se em um contexto desfavorável à sua existência. O mais curioso de tudo, é que o homem é o próprio criador deste contexto. Será que o homem é um ser naturalmente masoquista, ou é incapaz de construir uma sociedade que o leve a atingir a sua plenitude ? Ou talvez acabe sempre sendo conduzido por grupos dominantes, com foco em poder e no controle dos bens materiais da humanidade ? Talvez a maioria das pessoas nunca tenham parado pra pensar e perceber a nossa realidade.

Reflexão : Quem projetou o modelo de mundo em que vivemos ?

Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.  ~Chico Xavier

7 comentários:

  1. É bem abstruso pensar nisso... Não sei se é uma atitude inteligente ter um filho hoje em dia. O mundo está perigoso, e talvez, o filho pode culpar o pai por ter nascido. Hm... É a minha opinião. Colocando um "pedaço" de você no mundo, e ter que soltar sem dó e piedade não é fácil.

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  2. Quem sebe o seu filho será a pessoa que irá mudar o mundo... Obrigado pelo comentário!

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  3. concordo plenamente com o thiago aí em cima.
    se houvessem menos (bem menos) pessoas no mundo, ele poderia ser um lugar melhor naturalmente...

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  4. http://eleutherafilia.blogspot.com/2010/05/diz-o-fatalista.html olha esse link

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  5. Excelente texto para refletirmos sobre nossas angústias: "A tendência natural é o indivíduo esquecer que está vivo, ligar o piloto automático e seguir com o seu dia a dia...". Mas ainda assim, prefiro repetir a frase citada de Chico Xavier a deixar de acreditar na vida humana. "Vinde a mim as criancinhas", ainda que o mundo não lhes seja totalmente hóspito. Amo bebês (coração materno!).

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  6. Obrigado pelos comentários. As crianças entram nesse mundo puras, e são gradativamente poluídas com conceitos sociais e religiosos criados pelo homem. Desta forma vão se integrando e tornando-se adultos. Porém sempre há tempo para o adulto lembrar que já foi criança, e resgatar o seu passado.

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  7. Não somos masoquistas e, sim manipulados, daí nasce a insatisfação e a desilusão, geradoras de todas as mazelas psicosociais que atormentam os habitentes desta esfera...

    Seu questionamento já traz a resposta. "Ou talvez acabe sempre sendo conduzido por grupos dominantes, com foco em poder e no controle dos bens materiais da humanidade ?"

    Por isto deixo outra pergunta: Que tal cortarmos este cordão umbilical, que nos liga ao consumismo, crescimetismo e programação mental?

    Saudações fraternas!

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