quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Quando eu era Criança...


Quando eu era criança, a minha mãe sempre dizia que quando crescesse não gostaria mais das coisas que naquele momento eram tão importantes para mim, que eu mudaria assim como qualquer adulto, e que a minha mente passaria a estar focada em outras direções.

Esta afirmação me intrigava profundamente. Achava que não haveria motivo algum para mudar, já que aquele era o meu verdadeiro "eu", sem máscaras ou fugas. Prontamente eu sempre respondia que não mudaria, e seria sempre a pessoa que estava ali naquele momento. Ela sorria e dizia que isso só o tempo poderia confirmar.

Segundo a biologia, as pessoas nascem, crescem, reproduzem-se e morrem. Mas ao longo deste ciclo muitas coisas acontecem. A pergunta que quase todos fazem é, se vamos morrer por que nascer ? Pra que vivemos ?

O filósofo Descartes criou a famosa frase: "Penso, logo existo". A complexa mente humana, mais poderosa do que o mais moderno computador do mundo possui um diferencial até hoje não explicável: a sua forma de processar as informações não levando em conta apenas dados lógicos, mas sentimentos, emoções, criatividade e uma boa dose de arbitrariedade.

Com todas estas variáveis, os seres humanos tendem a serem diferentes uns dos outros. Porém estudos psicanalíticos demonstram que existem características comuns que podemos perceber entre as pessoas.

O homem recebeu como presente o direito de viver, e a obrigação de cuidar do seu hábitat e dos seres que nos cercam. A ele foi dada liberdade total e irrestrita, e a capacidade de raciocinar, evoluir e reinar no seu universo.

Porém esta livre e poderosa mente humana nasce com uma quantidade limitada de informações, apenas com instintos puros e primários de sobrevivência, e um grande potencial para evolução.

Observa-se que as relações humanas vêm se tornando cada vez mais complexas com o passar do tempo. Desta forma, os instintos naturais de sobrevivência passam a atuar não apenas em aspectos físicos, mas também psicológicos. A cultura social contemporânea ensina ao indivíduo desde jovem, seja de forma explicita ou inconsciente, a ter como importantes objetivos de vida a disputa pelos recursos disponíveis e aspiração pelo poder.

Influenciado pela sociedade, o que normalmente o homem acaba buscando é uma felicidade projetada em cima daquilo que ele conhece e imagina ser os seus ideais de vida. Estes ideais são normalmente direcionados para aspectos materiais, fúteis, superficiais e voláteis. Tais objetivos jamais levarão o homem à plenitude, e farão com que ele inicie uma insaciável e infindável busca pelo prazer alternada por momentos de depressão e frustração. A suposta "felicidade" temporária gerada por estas conquistas rapidamente se apaga dando origem a uma nova meta da mesma natureza a ser alcançada.

Às vezes paramos pra pensar buscando onde erramos. A "falha" está na origem. Um bebê ou uma criança pequena só precisa de um simples gesto de amor e carinho para retribuir com um sorriso puro e radiante de felicidade. Por que será que o mesmo não ocorre com adultos, que supostamente são "crianças" mais evoluídas ?

Se nos tornamos as pessoas que somos hoje, cheios de defesas, angústias ou frustrações, ferindo sempre as pessoas que mais nos amam, insatisfeitos com as nossas vidas e em busca de algo que nunca temos, o que podemos concluir ?

Se um dia fomos criança, aquela essência continua dentro de nós, mesmo que adormecida. Cabe a nós reencontrá-la e resgatá-la.

2 comentários:

  1. É isso mesmo Jorge!

    O sistema nos leva a crer que no consumo está encerrado o segredo da felicidade, como não existem bens de consumo para todos vem a competição e com ela as mazelas sociais. Pobres hedonistas! Certa a criança, que não é egoísta, apenas 'ingenuamente' egocêntrica.

    Grande abraço nobre irmão!

    ResponderExcluir
  2. Adultos têm responsabilidades, o que os leva a pensar com o bolso. Por isso adultos não "exalam" a essência das crianças. O grande problema dos adultos é achar que dinheiro resolve tudo, então esquecem do amor a si mesmo e aos outros.

    ResponderExcluir