quinta-feira, 10 de junho de 2010

A Ilha

No dia 28 de agosto de 2006 um trabalhador e pai de família termina o seu dia de serviço, sai do escritório e vai para a rua iniciando sua jornada de volta para casa.

Um outro cidadão entra em um bar, pede uma cerveja, e começa a degustá-la.

Ao dirigir-se para o seu carro, o trabalhador passa pelo bar.

Em um movimento súbito, o cidadão que estava no bar larga a cerveja, aproxima-se por trás, e dispara dois tiros a queima-roupa terminando ali com a vida do trabalhador.

Este crime é apenas mais um retrato da sociedade hipócrita, paradoxal, passiva e ignorante em que vivemos.

Se um trabalhador anda pelas ruas, corre o risco tanto de ser assaltado, assassinado ou furtado, assim como abordado pela policia ou guarda municipal e ser multado, intimado, extorquido, ameaçado, ou até mesmo ser preso.

Que pais é esse ?

O estado para ter o direito de cobrar do cidadão comum rígidos deveres tais como altíssimos impostos, multas e fiscalizações severas e maliciosas que sempre acham algo de errado na sua pessoa ou na sua empresa, tem no mínimo a obrigação de fornecer à população uma contrapartida à altura, tal como saúde, saneamento, educação, segurança e condições dignas de vida. Do jeito que é hoje, parece que os fora da lei, os fugitivos, os ilegais, são cidadãos comuns, e não os verdadeiros criminosos e corruptos. E os trabalhadores é que acabam sendo o foco das perseguições, fiscalizações e cobranças ostensivas realizadas pelo Estado. Afinal, é sempre mais fácil cair em cima dos mais fracos, porque assim tem-se maior chance de sucesso e menor risco de retaliações.

Em um estado forte tal como China, EUA, Inglaterra, entre outros, organizações criminosas explicitas e declaradas não tem sobrevida. As autoridades de fato as desmontam com eficiência e objetividade. Se aqui no Brasil estas organizações crescem e se tornam mais poderosas a cada dia, é porque as autoridades não tem interesse na sua extinção de fato.

Pelo contrario, vemos políticos colocando quase sempre seus interesses pessoais e vaidades em primeiro plano. Os candidatos que estão vencendo nas pesquisas muitas vezes nem comparecem aos debates para não correrem riscos. A corrupção quase sempre acaba sendo mascarada e ocultada, permanecendo os supostos réus impunes. Às vezes, para não parecer absolutamente ridículo alguns elementos são colocados como "bodes expiatórios", assumindo a culpa no lugar de todo um grupo de corruptos.

E o povo permanece na ignorância, votando nos mesmos candidatos, esquecendo o seu passado, as antigas promessas não cumpridas, e acreditando nas atuais.

O país pertence ao povo, e não o povo ao país. Os políticos são empregados do povo, e não o povo dos políticos. As verbas públicas existem para que sejam realizadas obras em beneficio do povo, e não para o enriquecimento de políticos e alimentação da rede de corrupção. As leis existem para o bem estar da comunidade, e não para oprimir, punir e prejudicar as pessoas que levam a vida com dignidade.

A sociedade de hoje tem um comportamento absolutamente passivo e omisso às insatisfações e injustiças. Se em algum momento o cidadão sentir-se prejudicado, ele deve manifestar-se de forma ativa, organizada e severa, demonstrando claramente sua insatisfação, e forçando os poderes públicos a se submeterem à vontade do povo.

Hoje em dia fica difícil decidir se fugimos dos criminosos, da policia, ou dos fiscais. Isso tem que mudar. Viver bem é um direito do cidadão, e fazer com que o cidadão viva bem é um dever do estado.

Quem tem dúvida se é possível mudar, veja o vídeo a seguir...





“Individually, we are one drop. Together, we are an ocean.”
 ~Ryunosuke Satoro


Dedico este texto ao meu grande amigo Leonardo Tamm Drumond, assassinado na noite de  28 de agosto de 2006, no centro do Rio de Janeiro.

4 comentários:

  1. Acaba de ocorrer um acidente terrível aqui em Curitiba. Não tem como não pensar no que você falou.Parece-me que tudo ocorreu por falta de uma política urbanista melhor estruturada. São poucos os que gritam como você amigo. Espero que estes gritos de cidadania sejam cada vez mais escutados e as soluções colocadas em prática.

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  2. O objetivo do meu blog é fazer com que as pessoas pensem e acreditem que é possível mudar. Nosso povo acha que é tudo lixo e não tem solução. Mas se todos lutarem pelo bem comum um dia chegaremos la.

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  3. Impostos: Desde que o mundo é mundo se paga mais do que se recebe. Um exemplo? Pagávamos para receber infraestrutura podre em telefonia (privatizada), estradas (ao menos em Sampa, todas privatizadas), energia (concessionárias privatizadas), e por aí vai. Por que não há abatimento proporcional do investimento que não foi mais realizado, posto que hoje pagamos (caro) pelos serviços (podres) privatizados?

    Durante anos mantive assiduidade em meu blog, tentando fazer com que as pessoas energassem além do palmo à frente do nariz. Não adiantou. Desisti.

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  4. O estado é o maior inimigo e opressor. Esbanja recursos, sem preocupação em retornar o devido serviço. Eu vivo em uma ilha; por vezes tento fugir, mas cada vez mais coloco um tijolo que me isola do verdadeiro mundo. Terrível, talvez, mas necessário.

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