quinta-feira, 25 de junho de 2015

Sinais


Mar da Noite (pt.1)
Miragens (prev. - pt.8)

Algum tempo se passou. As lembranças do passado recente iam e vinham, mas a sequência do dia a dia me fazia com que procurasse acreditar, ou ao menos me conformar, que esta poderia ser uma forma satisfatória de seguir em frente. Alguns dias achava que sim, outros que não.

Aparentemente poderia parecer que estava em equilíbrio. Quando tenta-se colocar um objeto sobre uma base pontiaguda, um vento um pouco mais forte pode tombá-lo.

Porém pertencemos a um universo dinâmico, fortemente interativo, que se em algum momento abrirmos os olhos iremos perceber uma natureza viva e brilhante ao nosso redor, nos instigando a cada instante a viver intensamente.

Diante de tal situação a tendência é ocorrerem diversas situações de sublimação e catarse para atenuar aquela energia interna, contida, que se não é liberada pode levar à implosão. E assim aquele equilíbrio instável pode ser mantido, pelo menos temporariamente.

Com o passar do tempo vai se tornando mais difícil manter o objeto estável. É necessária uma energia incessante para manter algo que não esteja naturalmente em equilíbrio naquela posição, e isto pode levar à exaustão. Ou o indivíduo passa a viver como uma máquina, em modo automático, esquecendo que está vivo, ou passa a questionar a validade de tudo isso.

Aquelas imagens brilhantes do passado na verdade nunca se apagaram. De tudo que passou pelo menos teria ficado para sempre uma esperança, mesmo que longínqua, de uma nova perspectiva de existência, mesmo que apenas no mundo dos sonhos.

Em uma noite de devaneios voltei a abrir os olhos, o meu coração, e saí por aí sem destino. O céu estava escuro, nublado, com uma lua tímida e poucas estrelas, pequenas, quase sem brilho. Caminhei na direção das pedras onde batia um mar agitado, intenso.

Ao chegar em uma área de pico, diante do mar, na escuridão da noite, fechei os olhos ouvindo o forte som do mar batendo nas pedras. Deixei que a brisa fria refrescasse meu rosto, meu corpo, minha alma.

A escuridão da noite e o mar estavam me transmitindo a energia que tanto precisava naquele momento. De repente senti como se tivesse acordado de uma longa noite de sono, sem sonhos. Eu estava ali, vivo, sentado, mas sem diretrizes.

Abri os olhos. O céu continuava nublado, escuro, mas havia uma nuvem que parecia estar em movimento. Lentamente ela ia deixando transparecer uma área límpida do céu, até surgir bem na minha frente uma linda estrela, singular, que se destacava das demais pelo seu brilho e esplendor.

Fiquei então a observá-la, sem sentir o tempo passar. Aquele brilho ia me tocando cada vez mais forte. De certa forma eu precisava voltar a acreditar e a querer viver, mesmo diante de tantos obstáculos. Eu não conseguia mais parar de olhar para aquela estrela.

A aurora começou a surgir, o brilho da estrela passou a misturar-se com o do sol, até desaparecer na claridade do dia. Mesmo estando oculta, sua imagem me marcou para sempre.

No momento em que eu mais precisava o universo me enviou um sinal, um presente, uma luz. A cada noite que nasce olho para o céu em sua busca. Alguns dias ela está lá, brilhante, aparentemente tão próxima, mas ao mesmo tempo distante. Ainda assim, ela me fez voltar a sonhar.





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