Era mais uma manhã de sábado. No relógio da cômoda passavam poucos minutos das 5am, quando quase sempre acordo e não consigo mais dormir. Não gosto muito de dormir, mas quando dormimos parece que passamos por um tipo de reset parcial, no qual tendem a desvanecer aspectos e sentimentos não tão relevantes do dia anterior, mas aquilo que é bom fica, e isso é ótimo.
Como em quase todos os sábados fui para a cozinha passar o café. São momentos em que estou comigo mesmo, aparentemente sozinhn mas sempre acompanhado do meu espírito. Os pensamentos vão e vem, fluem rapidamente, giram, se aprofundam, mudam de sentido, mas nunca param. São momentos em que deixo a mente guiar os seus caminhos.
Ultimamente não tenho tido grandes inspirações para escrever, mas de repente achei que chegou o momento de retornar novamente, após um ano e três meses de hibernação.
Quando nascemos chegamos ainda puros, ou quase puros, com uma influência limitada vinda de fora para o nosso ser. Já cheguei a abordar a este tema em um post recente (Renascer).
No processo de crescimento e construção do nosso Eu (ou pseudo Eu), vamos seguindo trilhas, arbitrárias, cujo critério de decisão é baseado nas informações acumuladas assim como dogmas e paradigmas adquiridos.
Para melhor compreensão desta abordagem sugiro a leitura do post que citei através do link abaixo:
É como se a nossa alma nascesse despida, pura, selvagem, livre, espontânea, e no decorrer do tempo vamos tecendo um traje para vesti-la. Este traje pode começar leve, aparentemente belo, mas aos pouco vai se tornando pesado, reduzindo a nossa mobilidade, escondendo o nosso verdadeiro Eu, até para nós mesmos, podendo se tornar como uma prisão psicológica interior.
A cada aprendizado, vivência ou caminhos escolhidos vamos tecendo pontos, laços ou nós. No início parecendo tudo ok, talvez pelas novidades ou a própria beleza aparente do traje, mas muitas vezes quando nos olhamos de fora percebemos que acabamos construindo uma "cama de gato" super complexa, na qual mergulhamos de corpo e alma.
É possível que o indivíduo passe toda uma vida em modo automático, dentro da sua teia, conformado com os aspectos da sua existência. Ou talvez não...
Fazendo uma analogia com o filme Matrix, no instante em que é retirado o cabo que mantém o Neo ligado ao sistema, fazendo-o viver uma realidade virtual, fictícia, onde era enquadrado nas regras estabelecidas pelo seu criador (a máquina), uma nova perspectiva de vida se abre, e um novo futuro, totalmente incerto, se torna possível.
Não existe solução trivial para este dilema, mas a busca pela felicidade deve ser eterna enquanto o indivíduo estiver vivo. Ainda assim tal busca não é óbvia, porque na nossa realidade tudo é referencial, nada é absoluto. Não existe o "bem" sem o "mal", a alegria sem a tristeza. O que pode ser uma vida de tédio para uns talvez seja um sonho de futuro para outros, até o instante em que o sonho se torna realidade, e aquele sentimento acaba expirando, surgindo então um novo sonho, e assim a vida continua.
O que não é capaz realizar o indivíduo é a estagnação total, nos âmbitos de relevância para si.
The Show Must Go On...
Uma vez assisti a uma entrevista de um escritor famoso o qual não me recordo o nome, que na época tinha na faixa de oitenta anos. Perguntaram a ele que conselho de vida poderia dar aos mais jovens. Ele prontamente respondeu sem pensar: "Faça tudo aquilo que tem muita vontade, que te inspire, porque no fim da vida você não vai lamentar-se pelo que tentou e errou, mas por aquilo que tanto desejava e deixou de fazer."
A perguinta final para reflexão é: And what comes next? (E o que vem depois?)