E Renato Russo assim cantou: Seus pais "São crianças como você... O que você vai ser quando você crescer?"
Todos nascemos crianças, e quase todos temos a oportunidade de crescer. Mas isso não significa que a nossa maturidade acompanhe a evolução do corpo, e os compromissos que vamos assumindo no decorrer da vida.
Não estamos aqui em um parque de diversões, mas em um campo de guerra para lutarmos, sermos testados a cada momento, no limite da nossa capacidade. O sistema é cruel, implacável, nos leva a tomarmos decisões muitas vezes prematuras, as quais não estamos preparados, para que consigamos almejar uma suposta perspectiva de vitória.
Os instintos primários que herdamos do nascimento vão sendo mascarados pela influência que absorvemos do mundo que gira ao nosso redor. Nosso verdadeiro Eu tende a desaparecer dando lugar à este ser construído, com medos, traumas, complexos, amargura, opressão, abandono, depressão...
O sistema vende a idéia de você entregar a sua alma visando a perspectiva de uma vida melhor no futuro, com fama, sabedoria, dinheiro e poder, o que acaba sendo alcançado por uma parcela diminuta da população.
A religião te promete um espaço no céu se seguir à risca as suas diretrizes, mas caso não as siga inocula na sua mente um temor inconsciente de passar toda a eternidade sofrendo no inferno.
Acabamos em uma prisão psicológica que tende a consumir a maior parte da nossa vida prestando serviços para as entidades cujas retóricas lhe foi mais convincente.
Diante de todo este caos psicológico vamos vivendo, crescendo, e aprendendo na medida do possível. A cada instante somos levados a decidirmos que lado das bifurcações que surgem no caminho vamos optar em seguí-las, sendo que muitas vezes não há a possibilidade de retorno.
E a vida segue, rapidamente. Diante de todas as perspectivas de cenários que surgem, cada pessoa segue caminhos baseados no seu Eu construído. Algumas pessoas pensando demais, outras de menos, ou até nada e vivendo a sua vida aleatoriamente. Outras já optam por desistirem de tudo e viverem no limbo.
Dificilmente estamos suficientemente maduros para tomarmos as primeiras grandes decisões da vida, mas vamos seguindo, tropeçando, caindo, levantando e sobrevivendo.
Enquanto somos apenas nós mesmos, responsáveis exclusivamente pelos nossos atos, faz todo o sentido sofrermos as consequências dos erros e irresponsabilidades. Mas quando surgem outras pessoas na vida que colocamos no mundo, e que passam a depender de nós integralmente, para a sua formação, evolução, crescimento e construção de um eu mais feliz, tudo muda.
É neste ponto que a imaturidade começa a nos levar a cometer falhas graves, que poderão deixar marcas para sempre. O foco integral no trabalho, a supervalorização do ego, podem acabar deixando de lado essas pessoas que tanto dependem de você. E assim a marca do abandono acaba sendo cravada nas suas almas para sempre. Tanto de quem abandona quanto de quem foi abandonado. É uma dor mútua de altissima magnitude difícil de ser mensurada, que possivelmente perdurará pelo resto da vida.
É possível atenuar esta dor, através do entendimento futuro entre as pessoas, do auto-conhecimento, e da evolução de cada um. Mas este erro não pode se repetir...
Navegando pelos mares da vida, solitário, em um pequeno bote, com as ondas do mar batendo por todos os lados, sem nada esperar, quando surge uma ilha toda florida, linda, brilhante, com uma forte energia, inexplicável, que subitamente acorda a minha alma. Me devolve a vontade de viver, crescer, evoluir, ajudar as pessoas. Considerando o estado que estava, não dava pra distinguir se era um sonho ou realidade.
Eu precisava voltar a sonhar, acreditar em uma perspectiva de futuro diferente daquela que estava entregue. De repente tudo parecia possível. Um mundo de sonhos, uma nova realidade pareceu bater na minha porta. Era difícil acreditar se aquilo era mesmo real, ou apenas uma miragem. A vontade que me dava era mergulhar naquele mar selvagem, enfrentá-lo, nadar até a ilha, e ficar nela para sempre. Eu queria aquilo demais, do fundo do meu coração. Mas do outro lado havia aquele fantasma do abandono que me assombrava a alma me deixando em um impasse. Infelizmente não consegui mergulhar no mar e nadar até a ilha.
Há algumas décadas, Hemingway escreveu que se uma história termina com o herói vivo, é que na verdade ela ainda não encerrou.
Mas na verdade, levando-se em conta a meta-física, não existe um fim...