A decisão estava tomada.
A desistência não faz parte do meu ser. O que estaria para vir agora era apenas uma questão de tempo.
Saí daquele prédio, introspectivo. Flashes de memórias soltas no tempo iam e vinham, mas ao mesmo tempo estava com a mente um tanto adormecida, viajando entre o real e o abstrato, como dentro de uma pintura. Mas esta era uma dualidade quase permanente nos meus devaneios.
Enquanto caminhava sentia o clima frio da atmosfera envolvida por uma garoa que penetrava no meu corpo, e de alguma forma me trazia breves momentos de meditação e paz interior.
Caminhei na direção do mar, que sempre foi a minha principal fonte de energia. A imagem daquela imensidão azul, mesmo que um tanto mexida pelo vento, me fortalecia. Devido ao mau tempo, não havia pessoas por perto, e assim a troca de energia era límpida e plena. De repente me veio um pensamento de que em breve veria o azul do mar lá de cima, e que com certeza aquilo seria uma experiência singular e indescritível.
Em alternados instantes de reflexão não poderiam deixar de virem aquelas questões sempre presentes no meu dia a dia. Seria uma missão apenas de ida? E se for, haveria algo depois? Mas aqui ainda havia questões em aberto a serem resolvidas, batalhas que precisavam ser vencidas, relações indefinidas...
O tempo aparentemente não é nosso aliado. Pelo menos em uma visão rasa e plana da realidade que é e talvez sempre seja uma incógnita. Por que o tempo passa? Mas será que passa mesmo ou tudo é apenas uma ilusão, ou uma realidade fictícia de uma simples instância do nosso ser? Haveria outras instâncias? Certeza absoluta dessas respostas jamais teremos, pelo menos enquanto esta instância persistir. Mas o que estaria buscando de fato?
Já havia concluído que o material jamais será o suficiente para atingirmos a plenitude. A conjuntura em que vivemos parece nos induzir a modelos de existência vazios, que nos oferece gotas de felicidade e prazer em troca de escravidão para servirmos ao sistema. Nascemos livres, mas construímos prisões ao longo da vida onde acabamos por ficar confinados em rotinas que nos levam a desconectarmos des nós mesmos, chegando a ponto de esquecermos que existimos, deixando o nosso verdadeiro eu perdido no espaço-tempo. Se não houver reação a tendência é perdermos mobilidade, vitalidade, termos a nossa liberdade cerceada, nos fazendo perder aquele brilho vital que nos é concedido no instante em que nascemos.
A liberdade é imperativa e a luta por ela jamais deve ser abandonada. É preciso viver, socializar-se, interagir com o meio, a natureza, pessoas, animais, criar, inventar, testar, tentar, perseverar por aquilo que deseja e acredita, amar muito a ponto de sentir-se vivo, brilhar, fazer com que a sua existência faça diferença, e que a nossa experiência justifique esta dádiva que nos foi dada pelo universo. Pode ser que haja outras instâncias de existência, mas certamente esta será única e singular, então a nossa maior obrigação na vida para nós mesmos é sermos felizes sem limites, ao extremo.
A contagem regressiva para o dia da missão foi iniciada.