Em algum lugar no passado, era um dia comum, perdido no tempo. Acordei. Logo iria preparar-me para um novo dia. Tomar o meu café, seguir com a rotina de sempre, trabalho, obrigações, pequenos lazeres, fazer alguns exercícios físicos para manter uma qualidade de vida satisfatória, até que o dia se acabaria, e após uma outra noite de sono voltaria ao início do ciclo.
Só que naquele dia algo muito diferente ocorreria. Durante a leitura diária do jornal encontrei uma pequena nota no seu interior citando o alistamento de candidatos para uma missão espacial, mas sem maiores detalhes da sua natureza e objetivos. Para saber mais, teria que seguir adiante no processo.
Resolvi inscrever-me para a missão. Nem mesmo fazia ideia do motivo. Não pensei, fui até a agência, deixei o meu nome e preenchi os dados.
O tempo correu, voou, o passado desapareceu no horizonte. Era uma manhã. Ao abrir a caixa postal havia um e-mail convocando para a entrevista. O sender me parecia desconhecido, mas aquilo me remeteu ao passado e caiu a ficha que era algo relacionado àquela inscrição que um dia havia realizado, sem saber o porquê.
A minha mente estava confusa, perdida, sem um direcionamento definido. No decorrer dos últimos anos havia lutado várias batalhas. Conquistei pequenas vitórias, mas algo lá dentro me arremetia para o nada. Mas o nada não me satisfazia. Para escapar buscava algo que me permitisse sublimar aquilo que estava perdido no meu interior através de catarses, descarregando emoções sem um foco definido. Precisava continuar lutando, sem mesmo saber o motivo. Embora as causas parecessem consistentes, e aparentemente valiam a pena serem conquistadas, na verdade não passavam de um pretexto para lutar, para permanecer vivo, de pé, preparado para a próxima guerra.
Chegou o dia da entrevista. Após obter as credenciais, entrei naquele prédio branco, limpo, moderno. Não havia filas, nem outros supostos candidatos. Apenas segui aquele longo corredor que levava a uma sala branca, vazia, com dois sofás. Sentei e aguardei.
Após alguns minutos de espera fui chamado para um escritório onde havia apenas uma mulher, toda de branco, de óculos, que educadamente pediu para sentar-me à sua frente.
Conversamos por muito tempo, talvez horas. O meu currículo tecnicamente parecia enquadrar-se no perfil que estava buscando. Boa parte da entrevista parecia direcionada à leitura da minha mente, a tentativa de entendimento de porque eu estava ali, disposto a submeter-me àquela missão de alto risco.
Não havia uma clareza. Mas todas aquelas batalhas que havia lutado, quando olhava para trás sempre vinham questionamentos. Por que? A que tudo isso me levou? Para onde pretendo ir? Não havia como responder de forma objetiva. Pequenos portos seguros poderiam parecer justificativas pontuais, mas no dia seguinte rapidamente perdiam suas consistências.
No fundo o que estava buscando era a luz. Às vezes ela parecia tímida, escondida no meio de um sonho. Em breves momentos parecia querer materializar-se, mas a tendência era sempre desaparecer no tempo. E enquanto isso buscava guerras para lutar, fortalecer-me o possível para estar sempre preparado. As marcas da guerra ao invés de me demover, se tornavam combustível para seguir em frente.
E a luz? Onde buscá-la? Ela jamais poderia ser esquecida, porque no dia em que desvanecer até que desapareça para sempre a existência tornar-se-ia inócua. E a esperança? Ela vem, vai, vem... Em alguns dias parece que o sol, ou mesmo a lua, o universo, as estrelas, me trazem uma fresta da luz. Em outros vou na sua direção, timidamente, acreditando... Mas em alguns momentos deixo de acreditar até que algo dentro de mim gere uma nova faísca para me fazer acreditar novamente.
A desistência não é uma opção. Nunca foi, nunca será. Um dia com certeza a luz permanecerá acesa, para sempre.
Parei de pensar e resolvi aceitar o convite.
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