Passados 380 dias de penumbra eu já não sabia mais o que era real, surreal ou ilusão.
Com os olhos entre-abertos, semi-conscientes, minha mente pairava entre mundos indefinidos. Na impetuosa batalha do dia a dia, a entrega de corpo e alma à guerra tornou-se mais relevante do que a causa e seus próprios fins. Lutar por lutar, rechaçando o nada, em um mundo ilusório, perseverando incansavelmente na busca por uma quase inatingível e volátil vitória, ocultando um abismo no espaço.
O ser interior urge pela vida, nas entrelinhas do implacável espaço-tempo, onde a nossa instância só consegue avançar em rumo à entropia. Nessa jornada sem volta somos sucessivamente convidados pelo inconsciente a penetrar em um suposto universo de sonhos e perfeição, contrapondo-se ao medíocre modelo virtual da realidade.
Somos inseridos em uma conjuntura hermética, trancados em celas invisíveis que nos fazem subsistir e sobreviver, alimentados por conta-gotas de pequenos prazeres e inspirações, sempre na expectativa de um futuro idealizado. E assim o tempo passa, a vida passa, e o sistema permanece vivo e nutrido.
Permanecer na penumbra dói menos, mas perde-se a consciência do verdadeiro eu, não linear, insólito, irreverente, criativo, que anseia pela vida.
Para migrar entre mundos é necessário romper as correntes e conectores que nos prendem e programam a mente com regras, dogmas, axiomas e paradigmas, libertando-nos para uma nova perspectiva de existência. A forma e duração deste processo depende de cada um.
A interface entre as duas perspectivas é uma barreira aparentemente impenetrável. É como se um indivíduo em quarto aquecido, protegido de um duro inverno tivesse que mergulhar no lago congelado. Mas cada um tem o seu tempo, ou até mesmo a possibilidade de voltar atrás enquanto for possível.
Findados os tempos de penumbra, resolvi tentar. Do meu jeito, no meu tempo.
“A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.”
“Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados.”
~Mahatma Gandhi