Quando nascemos somos introduzidos sozinhos, perdidos, em um mundo novo e desconhecido. Surgimos em uma região geográfica, um país, um Estado, uma cidade, uma família que supostamente quer cuidar de você, quer o seu bem.
Do nascimento trazemos essências, confusas, obscuras, uma memória oculta pela escuridão, uma barreira aparentemente impenetrável.
Para a vida vamos acordando progressivamente, e deixando para trás todo aquele mistério relacionado ao nascimento do nosso Eu.
Assim como os serem têm capacidade de adaptação ao meio em que são colocados, nossa consciência começa a se abrir para o mundo, para as pessoas, e assim informações começam a nos ser transferidas, como que por osmose.
Leis e regras associadas à conjuntura do local em que nascemos são ensinadas como perspectivas de verdade futura para assim traçarmos os rumos de nossas vidas.
O nosso Eu torna-se uma mistura da essência original com tudo aquilo que absorvemos do meio.
No caminho de nossas vidas vamos encontrando ramificações apresentando alternativas de problemas e soluções para o presente e futuro.
Sendo assim, encontramos estabilidade emocional, psíquica, racional, ou não. Conseguimos compreender a nossa "verdade" pessoal, ou não. E assim vamos tocando a vida para a frente.
A "verdade" de cada um é construída a partir da conjugação do nosso Eu construído, influenciada pelas aprendizagens e experiências passadas, em conjunto com as opções que foram surgindo no decorrer da vida.
Desta forma podemos concluir claramente que a "verdade" de cada um é singular. Não necessariamente pode-se aplicá-la à outra pessoa, por mais óbvia que esta pareça ser.
A generalização da "verdade" na verdade é uma mentira, que é aplicada por grupos que buscam catequizar à pessoas através de suas fraquezas. Pode ser que exista uma verdade absoluta, mas com certeza o homem está muito distante. Talvez esta verdade seja até mesmo constituída por uma visão abstrata e não específica do que hoje consideramos concreto e racional.
Para sentirem-se estáveis ou mesmo fugirem da angústia, muitas pessoas prendem-se à fé. A fé pode ser direcionada à qualquer coisa, seja religião, hábitos alimentícios, físicos, acadêmicos, políticos, sociais, etc. Para ter fé basta acreditar que aquilo é a sua verdade, como um axioma, sem a necessidade de maiores questionamentos ou justificativas.
A fé pode servir desde uma explicação para adotar um determinado estilo de vida, a aceitação das leis da conjuntura, ou até mesmo uma justificativa para encarar a morte de forma que esta não seja necessariamente o nosso fim.
Da mesma forma que todos têm o direito de ter a sua verdade pessoal, a fé também pode fazer parte desta verdade. Se estamos vivos temos o direito de sermos felizes, e viver o melhor possível enquanto durarmos. Porém não temos o direito de julgar ao próximo nem de comparar suas verdades às nossas. Cada um tem o direito de escolher o seu caminho, por mais esdrúxulo que pareça. Simplesmente dizer que a nossa verdade é a correta é indubitavelmente uma mentira.