quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Criança Esperança

Carta aberta, de Eliane Sinhasique, para Renato Aragão, o Didi.

Quinta, 23 de maio de 2009.

Querido Didi,

Há alguns meses você vem me escrevendo pedindo uma doação mensal para enfrentar alguns problemas que comprometem o presente e o futuro de muitas crianças brasileiras. Eu não respondi aos seus apelos (apesar de ter gostado do lápis e das etiquetas com meu Nome para colar nas correspondências)...

Achei que as cartas não deveriam ser endereçadas a mim. Agora, novamente, você me escreve preocupado por eu não ter atendido as suas solicitações. Diante de sua insistência, me senti na obrigação de parar tudo e te escrever uma resposta.

Não foi por "algum" motivo que não fiz a doação em dinheiro solicitada por você. São vários os motivos que me levam a não participar de sua campanha altruísta (se eu quisesse poderia escrever umas dez páginas sobre esses motivos).

Você diz, em sua última Carta, que enquanto eu a estivesse lendo, uma criança estaria perdendo a chance de se desenvolver e aprender pela falta de investimentos em sua formação.

Didi, não tente me fazer sentir culpada. Essa jogada publicitária eu conheço muito bem. Esse tipo de texto apelativo pode funcionar com muitas pessoas mas, comigo não. Eu não sou ministra da educação, não ordeno e nem priorizo as despesas das escolas e nem posso obrigar o filho do vizinho a freqüentar as salas de aula.

A minha parte eu já venho fazendo desde os 11 anos quando comecei a trabalhar na roça para ajudar meus pais no sustento da minha família. Trabalhei muito e, te garanto, trabalho não mata ninguém. Muito pelo contrário, faz bem! Estudei na escola da zona rural, fiz Supletivo, estudei à distância e muito antes de ser jornalista e publicitária eu já era uma micro empresária.

Didi, talvez você não tenha noção do quanto o Governo Federal tira do nosso suor para manter a saúde, a educação, a segurança e tudo o mais que o povo brasileiro precisa. Os impostos são muito altos! Sem falar dos Impostos embutidos em cada alimento, em cada produto ou serviço que preciso comprar para o sustento e sobrevivência da minha família.

Eu já pago pela educação duas vezes: pago pela educação na escola pública, através dos impostos, e na escola particular, mensalmente, porque a escola pública não atende com o ensino de qualidade que, acredito, meus dois filhos merecem.

Não acho louvável recorrer à sociedade para resolver um problema que nem deveria existir pelo volume de dinheiro arrecadado em nome da educação e de tantos outros problemas sociais.

O que está acontecendo, meu caro Didi, é que os administradores, dessa dinheirama toda, não têm a educação como prioridade. Pois a educação tira a subserviência e esse fato, por si só não interessa aos políticos no poder. Por isso, o dinheiro está saindo pelo ralo, estão jogando fora, ou aplicando muito mal.

Para você ter uma idéia, na minha cidade, cada alimentação de um presidiário custa para os cofres públicos R$ 3,82 (três reais e oitenta e dois centavos) enquanto que a merenda de uma criança na escola pública custa R$ 0,20 (vinte centavos)! O governo precisa rever suas prioridades, você não concorda? Você pode ajudar a mudar isso! Não acha?

Você diz em sua Carta que não dá para aceitar que um brasileiro se torne adulto sem compreender um texto simples ou conseguir fazer uma conta de matemática. Concordo com você. É por isso que sua Carta não deveria ser endereçada à minha pessoa. Deveria se endereçada ao Presidente da República. Ele é 'o cara'. Ele tem a chave do Cofre e a vontade política para aplicar os recursos.

Eu e mais milhares de pessoas só colocamos o dinheiro lá para que ele faça o que for necessário para melhorar a qualidade de vida das pessoas do país, sem nenhum tipo de distinção ou discriminação. Mas, infelizmente, não é o que acontece...

No último parágrafo da sua Carta, mais uma vez, você joga a responsabilidade para cima de mim dizendo que as crianças precisam da "minha" doação, que a "minha" doação faz toda a diferença. Lamento discordar de você Didi. Com o valor da doação mínima, de R$ 15,00, eu posso comprar 12 quilos de arroz para alimentar minha família por um mês ou posso comprar pão para o café da manhã por 10 dias.

Didi, você pode até me chamar de muquirana, não me importo, mas R$ 15,00 eu não vou doar. Minha doação mensal já é muito grande. Se você não sabe, eu faço doações mensais de 27,5% de tudo o que ganho.

Isso significa que o governo leva mais de um terço de tudo que eu recebo e posso te garantir que essa grana, se ficasse comigo, seria muito melhor aplicada na qualidade de vida da minha família.

Você sabia que para pagar os impostos eu tenho que dizer não para quase tudo que meus filhos querem ou precisam? Meu filho de 12 anos quer praticar tênis e eu não posso pagar as aulas que são caras demais para nosso padrão de vida. Você acha isso justo? Acredito que não.

Você é um homem de bom senso e saberá entender os meus motivos para não colaborar com sua campanha pela educação brasileira.

Outra coisa Didi, mande uma Carta para o Presidente pedindo para ele selecionar melhor os ministros e professores das escolas públicas. Só escolher quem, de fato, tem vocação para ser ministro e para o ensino. Melhorar os salários, desses profissionais, também funciona para que eles tomem gosto pela profissão e vistam, de fato, a camisa da educação. Peça para ele, também, fazer escolas de horário integral, escolas em que as crianças possam além de ler, escrever e fazer contas possa desenvolver dons artísticos, esportivos e habilidades profissionais. Dinheiro para isso tem sim! Diga para ele priorizar a educação e utilizar melhor os recursos.

Bem, você assina suas cartas com o pomposo título de Embaixador Especial do Unicef para Crianças Brasileiras e eu vou me despedindo assinando... Eliane Sinhasique - Mantenedora Principal dos Dois Filhos que Pari.

P.S.: Não me mande outra carta pedindo dinheiro. Se você mandar, serei obrigada a ser mal-educada: vou rasgá-la antes de abrir.

PS2* Aos que doaram para o criança esperança. Fiquem sabendo, as organizações Globo entregam todo o dinheiro arrecadado à UNICEF e recebem um recibo do valor para dedução do seu imposto de renda. Para vocês a Rede Globo anuncia: essa doação não poderá ser deduzida do seu imposto de renda, porque é ela quem o faz.

PS3* E O DINHEIRO DA CPMF QUE PAGAMOS DURANTE 11(ONZE) ANOS? MELHOROU ALGUMA COISA NA EDUCAÇÃO E NA SAÚDE DURANTE ESSES ANOS?

BRASILEIROS PATRIOTAS DIVULGUEM ESSA REVOLTA....


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Call to Arms : Está na hora de mudar!


Sentado em uma poltrona desconfortável de um avião a 9.000m de altura, esperando o tempo passar, comecei a refletir sobre o que tenho escrito nos últimos meses e publicado neste blog.

Basicamente os meus posts têm o objetivo de fazer com que o leitor reflita sobre o contexto em que vivemos,  procurando ajudá-lo de alguma forma a viver a vida mais intensamente, buscando sempre a sua felicidade, em conjunto com o todo.

Alguns posts têm sido de caráter filosófico, abordando a visão da vida pela maioria das pessoas, e apresentando formas alternativas que nos levem mais naturalmente à felicidade. Outros de caráter histórico, tentando explicar os motivos que levaram a sociedade à conjuntura atual.

Com relação às minhas publicações com abordagens sociológicas e políticas, procurei elucidar alguns dos problemas que passamos nos dias de hoje em nosso país, os quais são decorrentes da conjuntura político-social em que vivemos.

O Brasil de hoje é um país que está em crescimento contínuo, mesmo com o elevado índice de corrupção de grande parte de nossos políticos. O Brasil possui dimensões continentais, com riquezas naturais por toda parte, condições climáticas não agressivas em grande parte de seu território, contém a maior floresta do mundo, riquíssima por sua bio-diversidade, e quase por unanimidade mundial é considerado a "potência mundial do futuro".

Por outro lado, ao analisarmos a pirâmide social de nossa população constataremos que apresenta um perfil esdrúxulo. O Brasil é um país que apresenta uma grande desigualdade social, onde 10% da população representada pelos mais ricos possui cerca de 50% da renda de todo o país, e 50% da população representada pelos mais pobres possui apenas 10% da renda. Além disso, os 1% localizados no topo da pirâmide social (os mais ricos) possuem uma parcela de renda superior a da metade de toda a população brasileira (mais pobres).

Sendo assim, que sentido tem o Brasil ter toda essa excelência se a grande massa de nossa população não usufrui de tais recursos ? Será que convém à minoria que controla o nosso rico país que a massa se eleve socialmente a ponto de questionar o seu poder ?

Como eu já disse em posts anteriores, boa parte dos políticos de nosso país, principalmente no poder executivo, consideram o Estado a sua empresa particular. Investem milhões em suas campanhas demagógicas para chegarem ao poder e através deste realiza todo o possível para retornar o seu investimento, com elevada rentabilidade.

Não importa se em outra ocasião o político já foi "povo". Quando alcançam o poder realizam medidas maquiavélicas e impopulares, buscando o aumento da arrecadação do Estado a qualquer custo. Seja através de novos impostos, multas, aumento das taxas e tarifas, maior severidade na fiscalização de pessoas físicas ou jurídicas, investimento elevado na tecnologia quando usada no apoio à fiscalização e multagem, entre outras.

Não é à toa que o Brasil é um dos países com o maior nível de tecnologia associada às eleições, já que é através da política que a minoria se mantém permanentemente no poder. Quanto maior a verba do Estado disponível para a realização de projetos, maior a lucratividade dos políticos, que de alguma forma acabam obtendo parte desta verba para si. Assim se explica esta corrida desesperada, desenfreada e maquiavélica pela a implantação de medidas que aumentem a sua arrecadação, independente da aprovação ou não do povo.

Considerando que nossas eleições "ainda" são diretas, teoricamente o povo teria condições de não reeleger os elementos que não agradarem. Porém isso não funciona assim. Dado que a maioria da população vive na pobreza, e por conseguinte não possui um nível educacional decente, fica fácil para os políticos obterem seus votos através de presentes e benefícios diretos às comunidades ou congregações religiosas que participam. Desta forma se torna possível a um político se perpetuar no poder, mesmo apresentando comportamento e ações indesejáveis e impopulares em seus mandatos.

Dada esta conjuntura, qual é a solução que podemos vislumbrar para a mudança deste cenário ?

Em longo prazo, o investimento na educação é a solução. Por mais que se procure procrastinar a elevação do nível educacional da população, não é digno que nosso povo permaneça como está.

O brasileiro tem apresentado nas últimas décadas um perfil absolutamente passivo. Ele se satisfaz com o seu chopp, futebol, samba, entre outras "drogas" que lhes são oferecidas para desviarem o foco dos problemas político-sociais.

A minoria pensante precisa no mínimo se unir e manifestar-se de forma inteligente e incessantemente, com perseverança. O país é nosso, pertence a todos. Os políticos são nossos empregados que existem para nos servir. Se não estiverem agradando devem ser demitidos. Com o povo unido, ganhamos força e podemos estabelecer um mecanismo de pressão permanente em cima dos políticos que governam o nosso país. Já existem movimentos localizados, através da internet que tem crescido substancialmente nos últimos anos. Chegamos a ponto do governo do Rio de Janeiro querer impor censura ou o fechamento do Orkut, para evitar que suas ações indesejáveis sejam elucidadas para o povo. Isso é sinal que eles já estão sendo incomodados. Mas isso não é suficiente. Cada leitor que achar que minhas palavras são válidas, deve pensar de que forma pode ajudar na luta por um país melhor, governado de fato pelo povo, e não por uma minoria que busca apenas os seus interesses.

Através da inteligência e união podemos lutar juntos por um Brasil melhor. Da mesma forma que os políticos articulam para obter e permanecer no poder, cabe ao povo fazer com que eles cumpram o seu papel, de nossos servidores. Medidas impopulares devem ser rechaçadas, através de uma oposição dura e persistente. A oposição somos nós mesmos. Não podemos esperar que os outros façam aquilo que nos cabe. Se as eleições estão por vir, não adianta simplesmente manter-se descrédulo e impassível. É importante acreditar, divulgar, denunciar, lutar pelos seus direitos, fazer o seu papel de cidadão.

Como disse Júlio César,

“Alea Jacta Est!”

“Washing one's hands of the conflict between the powerful and the powerless means to side with the powerful, not to be neutral.” ~Paulo Freire

“If the structure does not permit dialogue the structure must be changed” ~Paulo Freire

“Individually, we are one drop. Together, we are an ocean.” ~Ryunosuke Satoro